domingo, 28 de junho de 2015

Tribos desperta reflexão e valoriza plateia

Foto Thiago Fadini

A peça "Tribos", encenada por Antonio Fagundes e seu filho Bruno, e, ainda Guilherme Magon, mais Eliete Cigaarini, Maíra Dvorek e Arieta Corrêa, deixa no público uma desconcertante reflexão acerca da surdez metafórica nas relações pessoais. Na comédia perversa, com sacadas inteligentes e questões polêmicas, encenada em Uberaba, no Cine Teatro Vera Cruz, no último sábado,  muitos percebem que às vezes nos tornamos surdos diante de situações que gostaríamos de não ter de enfrentar. 

O deficiente auditivo Billy, vivido por Bruno Fagundes, é o único que consegue ouvir os demais membros de sua família.  O ator não conhecia nenhum surdo quando decidiu interpretar Billy e então fez laboratório convivendo com surdos oralizados, quando conheceu a tradutora e intérprete de Libras, Mirian Caxilé, que os acompanha nos espetáculos.
                                                                             

                                                                                                                                                                    
                                                                         
                       


Guilherme Magon (à direita) chama a atenção por sua excelente performance como o irmão esquizofrênico de Billy. 






Magon estreou no cinema, em 2008, no filme "Rinha", com roteiro e direção de Marcelo Galvão. Em 2009, integrou o elenco da peça juvenil "Cuidado: Garoto Apaixonado", com texto e direção de Toni Brandão. Em 2011 participou da montagem brasileira do musical "Mamma Mia!", e substituiu Reynaldo Gianecchini, no musical "Cabaret", com Cláudia Raia e direção de José Possi Neto, ficando quase dois anos em cartaz. E desde 2013 está no elenco de Tribos. 




Escrita pela inglesa Nina Raine e dirigida por Ulysses Cruz, em nove cenas, a peça consegue entreter, provocar questionamentos e entregar um bom produto aos amantes das artes. E a segunda sessão contou com acessibilidade por meio da intérprete de Libras-Língua Brasileira de Sinais. 







A peça mostra que existe uma incomunicabilidade a partir da família, a partir do momento em que deixa de conversar, de se ouvir, de se entender. Fagundes tem dito em entrevistas não ser contra as redes sociais, mas contra a forma com que estão sendo usadas. "Estamos vendo essas novas formas de se comunicar destruindo coisas muito importantes. A palavra está sumindo", frisa. 




Após o espetáculo, o público se surpreendeu com a declaração do ator Antonio Fagundes de que a produtora responsável pelo espetáculo (que não é de Uberaba) havia desaparecido com o dinheiro destinado às despesas com a viagem,  hospedagem e alimentação do elenco. Ele agradeceu  ao produtor Ronaldo Júnior (Show Brasil Produções), ao Two Macarrão, à Prefeitura de Uberaba/Fundação Cultural, à Cantina Tarantella e ao restaurante Garagem pelo apoio recebido para a apresentação da peça em Uberaba.
Em seguida abriu um ótimo bate-papo com a plateia, que se certificou de que os atores buscam muito mais do que sobreviver financeiramente da sua arte, mas principalmente permitir às pessoas que repensem suas atitudes diante da vida e passem a dar valor ao que realmente importa, como o amor ao próximo, de forma plena e intensa. 
Sobre o fato de a peça não ter patrocínios e nem produção custeada pela Lei de Incentivo à Cultura, por exemplo, Fagundes foi enfático ao dizer que é uma opção do grupo. Quando há patrocínios, muitas vezes, os espetáculos fazem turnê para cumprir a agenda do patrocinador, sem se importar muito com a reação das pessoas ou se a peça contribui de fato com a cultura. "Nós temos a preocupação com o público, pois dependemos da sua presença", enfatizou o ator deixando clara a confiança na resposta da plateia ao seu espetáculo. "Tínhamos razão. Estamos há quase dois anos em cartaz, caminhando para 200 mil espectadores e chegamos inclusive a fazer uma temporada internacional", finalizou.

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